Neurologista fala sobre a doença; se diagnosticada cedo, é possível retardar seu avanço e controlar os sintomas, garantindo melhor qualidade de vida ao paciente e à família
Com o aumento da expectativa de vida da população, o número de pessoas diagnosticadas com Doença de Alzheimer tende a crescer. No mundo, estima-se que 50 milhões sofram de demência, e o Alzheimer é responsável por até 70% delas, segundo a Organização Mundial da Saúde.
“O envelhecimento é maior em países em desenvolvimento, na América Latina, na África e na Ásia. A nossa região é a que terá o maior aumento no número de idosos no mundo nos próximos anos”, diz o neurologista Rodrigo Rizek Schultz, presidente da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz). O médico participou de live produzida pelo Estúdio Folha, com patrocínio da Sandoz, no Dia Mundial do Alzheimer, 21 de setembro.
O Alzheimer não tem cura, é uma doença degenerativa, progressiva e irreversível. Apresenta-se como demência, ou perda de funções cognitivas (memória, orientação, atenção e linguagem), causada pela morte de células cerebrais. Quando diagnosticada no início, é possível retardar seu avanço e ter mais controle sobre os sintomas.
Assim como outras demências, as causas para o seu surgimento são multifatoriais, segundo o neurologista. “Existem mais de cem genes relacionados e fatores de risco variados. A depender da exposição desses genes a alguns fatores, há a sua expressão. Então, não sabemos se teremos ou não”, diz Schultz.
A idade é o principal fator de risco. Após os 65 anos, o risco de desenvolver a doença dobra a cada cinco anos. Outros fatores têm relação com o estilo de vida, como hipertensão, diabetes, obesidade, tabagismo e sedentarismo. Estudos apontam que o controle desses fatores pode retardar o aparecimento da doença. Por isso, falar de prevenção é fundamental, segundo Schultz.
Uma maneira de retardar o processo da doença é a estimulação cognitiva e diversificada ao longo da vida. “Leitura, socialização, discutir, argumentar, sair, escrever, cinema, teatro e atividade física. Enfim, viver a vida. Muita gente pensa em palavra cruzada, mas tem de ir um pouco além disso.”
DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
A piora progressiva dos sintomas faz parte do quadro da doença, e o estágio inicial raramente é percebido. É comum que os sintomas iniciais sejam confundidos com o envelhecimento normal. Essa confusão tende a adiar a busca por orientação profissional, e a doença acaba sendo diagnosticada tardiamente. A recomendação é que, aos primeiros sinais, as famílias procurem ajuda especializada.
“Seu pai ou seu avô começa a mudar o comportamento e você às vezes pensa ‘ele envelheceu, ele diz o que ele quer’, e aquilo é esperado. O tempo passa e a memória vai junto. Quando se procura um profissional e ele diz que é Alzheimer, muitas vezes já passou um ano”, diz Schultz.
O neurologista alerta que as alterações de comportamento mais comuns são depressão e ansiedade. Na fase inicial, podem ocorrer perda de memória recente, dificuldade para encontrar palavras, desorientação, dificuldade para tomar decisões, agressividade, diminuição do interesse por atividades e passatempos.
“Se um profissional fizer uma avaliação adequada, cognitiva breve, neuropsicológica, pode observar algo. Os geriatras, por exemplo, conversam sobre tudo em consulta, e a pergunta sobre comportamento e cognição vem naturalmente como parte do roteiro.”
O diagnóstico precoce é importante para se programar para o que virá e se planejar para o melhor cuidado. “Quando você sabe precocemente, é possível se mobilizar. É uma mobilização complexa, para os familiares, para os cuidadores. Envolve emprego, dinheiro, questões emocionais”, explica Schultz.
Existem dois grupos de drogas que melhoram os sintomas cognitivos (memória, linguagem, coordenação), comportamentais (depressão, ansiedade, distúrbios do sono, do apetite, agitação, delírio, alucinação) e a funcionalidade (usar um telefone, pagar uma conta, fazer uma compra).
O primeiro são os inibidores de uma enzima que degrada a acetilcolina, substância presente no cérebro. “Esse tipo de droga é usada do início da doença até o fim”, afirma Schultz. O segundo grupo atua reduzindo um mecanismo específico de toxicidade das células cerebrais. O medicamento é usado na fase intermediária/moderada da doença.
O tratamento não farmacológico envolve atividades de estimulação cognitiva, social e física. “É importante centrar na pessoa com Alzheimer, quais as suas necessidades, o que gostaria, mesmo que ela não consiga dizer”, finaliza Schultz.
CONFIRA O VÍDEO NA ÍNTEGRA
CLIQUE EM //folha.com/no1988870