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Perda de soberania e ataque à indústria são riscos do acordo entre Mercosul e UE, dizem críticos

“Não tenho dúvida, o acordo de livre comércio do Mercosul com a Europa é tão benéfico ao Brasil quanto a terra ser plana”, disse ex-senador. Para economista, acordo é versão do neocolonialismo

Os prejuízos do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia para a soberania do país e para a indústria nacional foram citados nas redes sociais neste sábado (29) por economistas e políticos do campo progressista. O acordo está sendo celebrado por partidários do governo Jair Bolsonaro (PSL), sobretudo pelo fato de ter sido negociado ao longo de 20 anos, e ter chegado à assinatura nesta sexta-feira, em seis meses de governo.

Há, no entanto, um longo processo a ser percorrido para a criação dessa grande área de livre comércio, devendo o acordo passar pelo Parlamento de cada país, conforme lembra o ex-senador pelo Paraná Roberto Requião. “Não tenho dúvida, o acordo de livre comércio do Mercosul com a Europa é tão benéfico ao Brasil quanto a terra ser plana. A Europa protege seus setores mais fracos e abre as portas do Mercosul para seus setores dinâmicos. Cabe agora ao nosso Congresso analisá-lo em profundidade”, afirmou.

O economista Marcio Pochmann destacou que “o acordo União Europeia e Mercosul formaliza o neocolonialismo na região latino-americana com a liquidação do que resta do sistema de manufatura e consolidação da estrutura primário-exportadora. Adeus soberania nacional”.

O jornalista Luis Nassif disse em vídeo divulgado no portal GGN que ainda não tem opinião consolidada sobre o acordo, mas também afirmou que ele abre espaço para as commodities brasileiras do agronegócio, mas tende a sufocar a indústria nacional. Nassif também considera errada a análise de que por conta do acordo o país vai correr atrás do prejuízo e se tornar mais competitivo. “O Brasil está há 15 anos perdendo competitividade. Se aperto fosse condição para ser competitivo o país teria sido competitivo lá trás”, disse. Ele comentou que a queda da indústria no país começou com a política cambial que implementada desde o Plano Real (1994).

O jornalista Palmério Doria, autor do livro A Privataria Tucana, entre outros, disparou críticas à imprensa corporativa, que está celebrando o acordo. “A imprensa escrita, togada, fardada e televisada vibra com qualquer abertura dos portos. Desde que siga os padrões coloniais, hoje chamado de neoliberais, como foi o acordo do Mercosul. Agora, depois da Previdência, aguarda o programa de desestatização. Ou seja: privataria”.

Ambientalistas e agricultores europeus consideram acordo UE-Mercosul “inaceitável”

ONGs e políticos ecologistas também atacam o acordo, principalmente devido à política ambiental do presidente Jair Bolsonaro. Segundo eles, o tratado comercial vai destruir “a Amazônia e a agricultura familiar europeia”.

As polêmicas e as resistências contra o acordo “histórico” entre o Mercosul e a União Europeia se multiplicam neste sábado (29). A assinatura do tratado comercial entre os dois blocos foi anunciada na noite de sexta-feira (28), em Bruxelas. Nesta manhã, o texto é considerado “inaceitável” por agricultores, ONGs do meio ambiente e partidos ecológicos europeus. A política ambiental brasileira está na mira dos opositores ao acordo.A presidente do FNSEA, o principal sindicato agrícola francês, Christiane Lambert, denunciou no Twitter um “acordo que expõe os agricultores europeus a uma concorrência desleal e os consumidores a uma enganação completa”. Ela critica principalmente as 99 mil toneladas de carne bovina que os quatro países do bloco latino-americano poderão exportar, sem taxas, para a UE.

Segundo o sindicato, a medida complica ainda mais a situação dos 85 mil produtores franceses, já fragilizados pela guerra de preços na França. Prevendo as resistências, o comissário europeu para a Agricultura, Phil Hogan, prometeu na sexta-feira uma ajuda financeira de até € 1 bilhão em caso de distúrbios no mercado do bloco.

Jean-Pierre Fleury, representante do setor de carne bovina do sindicato agrícola europeu Copa-Cogeca se pergunta está orquestrando “esta grande liquidação do setor pecuarista europeu?” Em 2018, Fleury foi um dos primeiros a alertar sobre a existência de riscos sanitários da carne brasileira. Segundo ele, no Brasil “a rastreabilidade dos animais é quase inexistente”.

Protestos de agricultores franceses contra o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul em fevereiro de 2018.Reuters/Emmanuel Foudrot

Política ambiental

ONGs e políticos ecologistas também atacam o acordo, principalmente devido à política ambiental do presidente Jair Bolsonaro. Segundo eles, o tratado comercial vai destruir “a Amazônia e a agricultura familiar europeia”. “Que vergonha a Comissão Europeia fazer um pacto com Jair Bolsonaro que é contra os democratas, a comunidade LGBT, as mulheres, a Amazônia, e homologou 239 agrotóxicos desde janeiro”, tuítou o eurodeputado ecologista francês, Yannick Jadot. Ele prometeu que o Partido Verde europeu fará tudo para bloquear o acordo.

Leia também:  Tsunami de agrotóxicos: Bolsonaro libera mais veneno para mesa dos brasileiros

Em uma carta aberta, publicada na imprensa em 18 de junho, centenas de ONGs, incluindo 30 coletivos franceses, pediram que à União Europeia interrompesse “imediatamente” as negociações sobre um acordo comercial com o Mercosul, em razão da situação dos direitos humanos e do meio ambiente no Brasil sob o governo de Jair Bolsonaro.

O presidente francês Emmanuel Macron disse em Osaka, no Japão, onde participava da cúpula do G20, que o acordo comercial é bom, mas garantiu que vai ficar atento a sua aplicação. Para entrar em vigor, o texto tem que ser ratificado por todos os países da União Europeia e pelo parlamento europeu, uma etapa que já se anuncia tensa.

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