Esta foi uma semana especial para as pessoas interessadas no tema do cuidado coletivo.
Na Câmara dos Deputados, aconteceu o Seminário sobre Cuidados, organizado pelo grupo de trabalho do mesmo nome que reuniu pesquisadoras, representantes do governo federal e da sociedade civil. Este é mais um passo para sair da Sociedade da Violência para construir coletivamente uma Sociedade do Cuidado.
Pensar em cuidado inclui pensar também em envelhecimento. Para falar sobre envelhecimento saudável e ativo convidamos a geriatra Marina Lobo, que trabalha em Goiás.
Marina Lobo – “Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2022) há 32 milhões de pessoas idosas vivendo no Brasil, o que representa 15% da população. E os números crescem a cada dia mais.
Desde dezembro de 2020 vivemos a Década do Envelhecimento Saudável. A decisão foi da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). O período que começou em 2021 e termina em 2030. Várias iniciativas empreendidas por governos, sociedade civil e setor privado foram lançadas a partir de então.
A primeira delas: combater o etarismo, mudando a forma como as pessoas pensam, sentem e agem em relação à idade e ao envelhecimento. Um desafio e tanto para todos nós, principalmente o Brasil, tido como um país jovem, mas que envelhece a passos largos.
As instituições, governos e parte da sociedade reconhecem o quanto o envelhecimento impacta no sistema de saúde, no mercado de trabalho, na economia, na demanda de bens e serviços. Envelhecimento saudável é garantia de movimento no mercado, inclusive no turismo.
Esses setores sabem o quanto o envelhecimento tem acontecido de forma acelerada e como devemos nos preparar rapidamente para garantir um envelhecimento saudável e ativo para toda população.
Para essa virada na forma de pensar o mundo e, em consequencia, para nosso próprio (bom) envelhecimento, têm surgido ideias cada vez mais autênticas e inclusivas.
No caso das demências, um bom exemplo é o restaurante Restaurante dos Pedidos Errados, em Toquio, no Japão, que emprega garçons e garçonetes diagnosticados com demência em estágio inicial. Com isso, mostram a importância de incluir as pessoas, difundir informações e lidar coletivamente com o tema.
Ou o Restaurante Enoteca Maria em Nova Iorque, nos EUA, que contrata nonas, avós de várias partes do mundo, como chefs de cozinha. A proposta está embasada em um conceito simples: feita com amor, a comida da vovó é sempre mais gostosa. Com isso, resgatam a memória afetiva de muitas pessoas ao mesmo tempo em que valorizam a experiência dessas avós.
Os movimentos sociais também dão sua contribuição para o envelhecimento saudável e ativo e para pensar cidades inclusivas. Este é o caso do Coletivo Filhas da Mãe que criou o grupo Caminhantes e todos os domingos pela manhã reune grupos de cuidadoras familiares e apoiadoras para caminhar em parques do Distrito Federal.
A proposta é estimular a visibilidade das cuidadoras em um espaço natural e saudável. Ou seja, estimulando uma Sociedade do Cuidado. O projeto vai mais além.
Em setembro, durante o mês mundial de conscientização sobre Alzheimer e outras demências, o Coletivo Filhas da Mãe, ao lado de vários parceiros, realiza a “Caminhada da Memória” que ocorre em Brasília desde 2022. A proposta, que também ocorre em outros países, é chamar a atenção sobre as demências, estimular a atividade física e o encontro intergeracional.
No final de março, a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) de São Paulo, realizou a I Parada da Longevidade também em parceria! O evento realizado no dia do gerontólogo, foi pensado para promover visibilidade, valorização e divulgação das abordagens que atendem às necessidades do envelhecimento.
Esses são apenas algumas ideias e movimentos que trazem visibilidade e inclusão para as pessoas idosas ainda ativas, ainda produtivas e cheias de energia levando em consideração o aumento da longevidade no mundo.
São projetos que trazem visibilidade para o envelhecimento não saudável, para as famílias em sofrimento, para as pessoas que cuidam, principalmente cuidadoras familiares. E chamam a atenção para a pergunta: quem cuida de quem cuida?
Pessoas que cuidam familiares, além do trabalho gratuito e invisível, são muitas vezes negligenciadas pelas familias, um reflexo da negligencia da sociedade e das instituições governamentais
Precisamos de campanhas informativas tanto sobre prevenção de saúde, quanto sobre doenças que atingem o envelhecimento. Precisamos de campanhas para valorizar quem cuida de seus familiares. E de campanhas permanentes para valorizar o envelhecimento ativo, respeitando os diferentes corpos.
Cosette Castro & Marina Lobo para o Correio Braziliense
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