Lei do Teto de Gastos cortou R$ 9 bilhões dos investimentos na saúde. Em SP, máscaras e álcool gel começam a faltar nas farmácias
O Ministério da Saúde confirmou, nesta quarta-feira (26), o primeiro caso do novo coronavírus no Brasil. O infectado é um homem de 61 anos que veio da região de Lombardia, na Itália para São Paulo. Uma possível epidemia da doença no país causa preocupação, principalmente, após os cortes nos investimentos em saúde, realizados pelo governo, no ano passado.
De acordo com o ex-ministro da Saúde, Artur Chioro, o país perdeu R$9 bilhões de investimentos na saúde, por conta da Lei do Teto de Gastos, o que, segundo ele, pode ter impacto negativo no enfrentamento a uma eventual epidemia de coronavírus. “Isso explica o temor que nós temos da capacidade de resposta do SUS, não por falta de competência das equipes de saúde ou dos gestores, mas por conta da insuficiência de recursos que nós vivemos. Nós vivemos desde a constituição um quadro de subfinanciamento do SUS. E, a partir da emenda do teto, nós mudamos de patamar, com um quadro de ‘desfinanciamento’ da saúde pública brasileira”, disse ele, em entrevista na manhã desta quinta-feira (27), à Rádio Brasil Atual.
A Lei do Teto de Gastos foi aprovada em 2016 e limita o aumento de verbas aplicadas na saúde – e em outras áreas – à reposição da inflação. “Esses R$ 9 bilhões que deixaram de ser empenhados na saúde, por conte da Lei do Teto, na verdade é mais do que isso. Nesse valor do ministério está embutido um pagamento recorde de emendas parlamentares. Se subtrair as emendas pagas pelo governo Bolsonaro, nós vamos chegar perto de R$ 20 bilhões que deixaram de ser aplicados nos serviços regulares de saúde”, afirmou Chioro.
Para o ex-ministro, é urgente que o governo federal e os governos estaduais tomem as medidas necessárias, liberando leitos e garantindo que as redes de saúde tenham médicos, enfermeiros e equipamentos necessários, inclusive para proteção dos profissionais. “É fundamental que o plano de contingência, que não se trata de impedir a chegada do coronavírus, permita que os trabalhadores e os serviços de saúde consigam implementar protocolos de atendimento que já estão previstos com base nas recomendações da Organização Mundial da Saúde, mas também consigam ter todas as condições necessárias do ponto de vista da estrutura física dos serviços e da biossegurança”, afirmou.
Paciente em quarentena
O Ministério da Saúde anunciou que o paciente ficará em isolamento domiciliar e passará por 14 dias de quarentena, acompanhado diariamente por agentes de saúde. “Caso ele tenha queda no estado geral, piora no seu estado clínico, na sua capacidade de respirar, aí sim ele vai ser levado a um ambiente hospitalar”, afirmou Luiz Henrique Mandetta, Ministro da Saúde.
Além do paciente infectado, outras 60 pessoas estão sendo contactadas pelo governo federal. O acompanhamento é necessário para saber se elas apresentam sintomas. “No domingo, ele recebeu a família. Trinta pessoas da família. Todas as pessoas estão sob observação. Mais os passageiros do avião”, relatou o ministro. “Acredito que tenhamos próximo de 50, 60 pessoas”, complementou.
Casos no mundo
Até agora são 80.239 casos confirmados da doença causada pelo novo coronavírus, em 34 países diferentes, conforme dados repassados pelo Ministério da Saúde. O número de mortes chegou a 2,7 mil. No Brasil, além do caso confirmado, são 20 casos suspeitos e 59 descartados.
Contraf-CUT
Máscaras e álcool gel começam a faltar nas farmácias
Farmácias do centro da capital paulista estão sem máscaras cirúrgicas nas prateleiras. Desde o início do ano, o medo do coronavírus fez aumentar a procura pelos produtos, principalmente por parte de pessoas que estão com viagem marcada ou por quem tem parentes em países com registro de mortes e casos confirmados para a doença. Nos últimos dias, a procura cresceu ainda mais.
Novos casos confirmados estão surgindo na Europa. Dezenas de novas infecções no Irã também intensificam os temores de uma propagação descontrolada do vírus no Oriente Médio. Nesta quarta-feira, 26, o Ministério da Saúde confirmou o primeiro caso de coronavírus no Brasil, como havia sido antecipado na terça-feira, 25. Há outros 20 casos suspeitos.
“Muitos chineses querem comprar máscaras porque vão viajar ou enviar para familiares que moram fora do Brasil. Em média, vinte pessoas passam por dia pela loja em busca de máscaras. Quando os produtos chegam, acabam no mesmo dia ou no máximo no dia seguinte. Hoje não temos mais. Algumas pessoas também ligam e outras querem encomendar”, disse Ana Paula Souza Miranda, farmacêutica, de 31 anos.
A vendedora Stefani de Souza, de 28 anos, saiu às 8 horas nesta quarta-feira para comprar máscaras para os patrões que são chineses e estão com viagem marcada. “Procurei na 25 de Março, na São Bento, no Anhangabaú e na República”. Perto do meio-dia, ainda não tinha encontrado. “Eles vão para a China e pediram para eu comprar 50 unidades de máscaras. Não é para usar aqui. Achei que seria fácil achar, mas não é”.
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“Sempre que acaba comunicamos o responsável pelas compras da rede, mas nem sempre tem como enviar logo. Antes ninguém procurava por máscaras”. No estabelecimento, o pacote com 100 máscaras brancas descartáveis até a semana passada custava R$ 25,90.
“O novo lote, previsto para chegar até sexta-feira, 28, virá com reajuste e sairá por R$ 29,90”, adiantou a farmacêutica Ana Paula.
O jornal O Estado de S. Paulo percorreu farmácias do centro da capital paulista nesta manhã de quarta-feira. Todas disseram não ter o produto para venda e muitas sem previsão de chegada. Todos os estabelecimentos, porém, adiantaram que o novo lote virá com valor reajustado.
Somente em uma loja de produtos descartáveis na Galeria Califórnia, na rua Barão de Itapetininga, na República, região central, a reportagem encontrou dois tipos de máscaras – branca e azul – na prateleira. “A procura aumentou, mas ainda temos bastante e um novo lote de 3 mil unidades chegará nos próximos dias”, disse Nilma Souza.
No estabelecimento, o pacote com 100 unidades varia de R$ 16 a R$ 25,90, dependendo do modelo. “O novo lote virá com reajuste”, adiantou Nilma. Na prateleira do estabelecimento, junto com as máscaras apareciam embalagens de álcool em gel. “A procura também é grande por álcool em gel, embalagens de 500 ml e de 5 litros”, afirmou Nilma. O pote com 500 ml é vendido por R$ 9,5 e o galão de 5 litros, por R$ 44.
Para se precaver, a ascensorista Maria José, de 57 anos, aproveitou e comprou máscaras descartáveis e álcool em gel. “Já temos um caso confirmado no Brasil. Dá receio. Vou usar porque trabalho dentro de elevador. Vou comprar para mim e minha família. Espero que tenham máscaras para toda a população, em caso de necessidade”.
Em outra farmácia, o auxiliar da loja Cleidiomar Barreto, de 30 anos, afirmou que não havia previsão para a chegada de mais máscaras. “Desde que surgiram informações do coronavírus, a procura aumentou. Querem encomendar. Muitos asiáticos procuram para mandar para familiares que moram fora porque lá também está em falta. Vamos até colocar uma placa na frente da loja avisando que não temos unidades para vender no momento”.
A administradora Rosana Kamia, de 47 anos, foi uma das clientes que veio até a loja em busca de máscaras. “Estou procurando máscara para uso pessoal. Tenho receio, por causa da doença, mas não encontrei em nenhuma farmácia”.
Algumas redes farmacêuticas avisam seus clientes por WhatsApp sempre que chega um novo lote. “Enviamos uma mensagem aos consumidores que nos pedem encomenda. A última cliente veio esses dias porque precisava comprar para mandar para o filho que mora na Itália. Ela disse que ele não encontrou mais no país. Assim que avisamos, ela veio comprar”, disse o auxiliar de farmácia Ewerton Vinicius, auxiliar de farmácia, de 26 anos. “Já fizemos novos pedidos, mas sem previsão de chegada. Por causa do carnaval, também atrasou”.
Por Estadão Conteúdo